Mariana Pimenta
Mu d a n ç a tem sido uma das atitudes vitais de Ednei Almeida Costa, um jovem que se ordenou padre aos 29 anos. Hoje, aos 31 recém-completados e há quase dois à frente da Igreja Católica Nossa Senhora da Saúde, Padre Ednei, como é carinhosamente chamado, já está colhendo bons frutos de seus trabalhos. Ele destaca que reabrir e restaurar as igrejas tombadas estão sendo uma das suas principais missões na cidade, missão essa considerada por ele a “pupila da Paróquia”.
O jovem Padre é Técnico em Química pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET), possui licenciatura pelo Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA), graduação em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Estado de Minas Gerais e pós-graduação em Ciência da Religião pela PUC-Minas.
Acompanhe a entrevista:
Jornal Impactto News: A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Saúde foi a sua primeira missão desde que se ordenou padre. Como está sendo administrar a paróquia?
Padre Ednei Almeida Costa: Desde que fui ordenado diácono, assumi a missão de estar junto com uma grande equipe no Setor de Publicações da Arquidiocese de Belo Horizonte na Puc-Minas. Ali, após a ordenação presbiteral, continuei por mais pouco tempo. Antes da missão aqui na amada Paróquia de Nossa Senhora da Saúde, estive como vigário paroquial da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima e São Miguel, no bairro Santa Mônica em Belo Horizonte.
JIN: No final de 2019 fazem dois anos que o senhor está em Lagoa Santa e já se tornou uma referência cristã na cidade. Como o senhor lida com isso? Esperava este acolhimento tão caloroso?
PEAC: Sou muito feliz na paróquia de Lagoa Santa. Embora estejamos limitados pela referência jurídica e geográfica de divisa com as outras três paróquias, vejo que todos me conhecem, me escrevem pelas redes sociais. Ser conhecido e tomado por referência é “gostoso”, mas sempre desafiador. Gosto de cumprimentar, acolher, sorrir, falar de Deus, orar por aqueles que me procuram, mas também gosto que façam por mim isso! Preciso muito de oração! Preciso também de acolhida. Sou humano! Mas trata-se de um desafio, pois quero mostrar ao outro o que de fato sou: humano). Lidar com essa realidade de ser padre e ser humano, sem ser ambíguo é desafiador, pois corro o risco de assustar muitas pessoas.
Não esperava ser tão bem acolhido como sou. Substituir um padre que ficou mais de 12 anos e bom como o padre antigo, traz muitas responsabilidades. Mas toda hospitalidade do nosso povo me faz querer ficar aqui por 40 anos.
JIN: Desde que assumiu a administração da Paróquia, o senhor tem feito um trabalho de recuperação cultural e da estrutura da igreja. O senhor tem enfrentado muitos desafios?
PEAC: Muitos são os desafios. Sobretudo da vaidade daqueles que achavam que tudo girava em torno do que podiam oferecer. Criei conselhos: administrativo e pastoral, e esses conselhos são minha força no lutar contra desonestidade, na falta de transparência e no compromisso com o resgate e a recuperação dos templos e da igreja que é cada cristão católico batizado.
JIN: Em relação às duas igrejas tombadas pelo patrimônio histórico, Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora da Conceição, elas estavam fechadas e o senhor, além de reabri-las, iniciou o processo de restauração. Como está sendo este processo? Tem previsão de conclusão das obras?
PEAC: As igrejas tombadas constitui hoje na minha missão a pupila da Paróquia. Para reabri-las, foi preciso percorrer um caminho de humildade, de diálogo e parceria. Junto ao Ministério Público, buscamos com o Conselho de Cultura, parcerias com o Município. Embora as ações sejam em 90% até a data atual por conta dos recursos da Paróquia, estão dando passos largos junto ao Município e em tudo alinhados à aprovação do Conselho de Cultura Municipal. Ainda não temos uma previsão de conclusão. À medida que o dízimo, doação e ofertas vão entrando, procuramos administrá-los com coerência e honestidade nas igrejas.
JIN: Uma das suas primeiras propostas foi de resgatar a parte cultural da festa da Padroeira. Conseguiu? Quais foram os desafios?
PEAC: O Jubileu de Nossa Senhora da Saúde é um patrimônio Cultural, Religioso e Turístico da Cidade de Lagoa Santa. Para além da sua dimensão religiosa, congrega atrações, valoriza artistas locais, agrega família e conhecidos e favorece muito o comércio artesanal. Devagarinho vejo que esse resgate proporciona a lembrança de histórias passadas que eram construídas com simplicidade e partilha em torno da experiência de fé. Os desafios continuam. Tudo hoje é mais burocrático e muito exigente. Desde o cumprimento das normas do Corpo de Bombeiros, segurança, voluntários, alimentação e a organização das Celebrações que recebem cerca de 5 mil pessoas por dia. Envolvem muitas pessoas e cada uma na sua forma e experiência singular, apresentam desafios para adaptação no presente.
JIN: A paróquia Nossa Senhora da Saúde é composta por seis comunidades católicas que estão sob a sua responsabilidade. Como o senhor encontrou a estrutura de cada uma delas? E o que já foi feito para melhorar?
PEAC: Na verdade, hoje somos 7 comunidades: a comunidade da Matriz, a comunidade São Pedro, a comunidade São Cristóvão, a comunidade de Nossa Senhora do Rosário, a comunidade de Nossa Senhora da Conceição, a comunidade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e a mais nova comunidade do Padre Pio. E as sete, formam a Paróquia a qual sou hoje servidor juntamente com o padre Márcio, nosso assistente paroquial. As comunidades eram sustentadas pela força e fé do nosso povo. Na estrutura “templo”, tudo muito precário. Sem projetos arquitetônicos, sem consulta e participação do povo, sem projeto de Incêndio e Pânico, sem projeto SPDA, com estruturas muito abaladas (Isso de modo geral). Hoje, para cada realidade e dentro da possibilidade da Paróquia, estamos fazendo tudo, embora precisa fazer mais. Criamos todos os projetos que exigem o Corpo de Bombeiros, reformamos telhado, refizemos estruturas, colocamos granito na Perpétuo Socorro e na São Pedro, colocamos o som novo da Matriz, pintamos as igrejas, fizemos projeto elétrico para todas, fizemos adequações nos espaços litúrgicos seguindo acompanhamento de um arquiteto sacro, restauramos peças sacras históricas, recuperamos outras peças, restauramos a imagem de Nossa Senhora da Saúde, fizemos a nova secretaria, a sala de reunião, o espaço de acolhida às pessoas que procuram a igreja para estarem com o padre, estamos finalizando os novos banheiros com acessibilidade, banheiro feminino, masculino e fraldário. Enfim, tem muitas outras coisas que o tempo e o espaço se tornam pequenos aqui.
JIN: A igreja tem enfrentado vários problemas em relação a seus terrenos como o cemitério paroquial, o Centro Catequético e a desapropriação de parte do terreno da Igreja Nossa Senhora da Conceição, por exemplo. Como o senhor está enfrentando esta situação?
PEAC: Confesso que eu brigo (rsrs). Vou ao Ministério Público, movimento a equipe Jurídica da Mitra, chamo prefeito pedindo explicação. Não tenho medo. Cumpro meu papel de administrador. Luto pela paróquia e por todos dentro dos nossos direitos, deveres e obrigação. Mas não é fácil. Também sofro por ser muito intenso e não querer ser injusto e nem sermos vítimas da injustiça daqueles que detém poder perante o privado. O Cemitério, um vizinho entrou com uma ação de usucapião, pegando a frente do mesmo. O Centro Catequético, encontramos um antigo documento de comodato assinado por um antigo padre renunciando toda sua benfeitoria no terreno – o que é muito triste para mim e toda comunidade. O Morro do Cruzeiro é muito mais complexo do que se pensa: não só a igreja, mas todas as terras subjacentes são tomadas e pertence à Paróquia. Uma vez que a Paróquia tem a posse, toda comunidade é beneficiada, pois em todo tempo estamos com a comunidade. Por isso não podemos perder os terrenos para pessoas que buscam interesses pessoais em cima deles. Trata-se de situações difíceis e muito delicadas.
JIN: Quais são os projetos futuros?
PEAC: São muitos! Climatizar a Matriz, construir um espaço para acolher as pessoas em vulnerabilidade de álcool ou pela droga, construir um novo espaço para o Centro Pastoral-Catequético, colocar granito na igreja-Matriz… O chamado
JIN: Como foi o seu chamado?
PEAC: Sempre acompanhei minha mãe à Igreja. Ali, ainda no interior, fui coroinha, participei de conferências vicentinas, acompanhava com frequência a Missa com minha mãe. Era apaixonado com o rito da Missa, a forma que o padre Alex celebrava, sobretudo pela piedade e amor que tinha à Eucaristia. Desse caminho de Igreja, olhando sobretudo a missa que a Igreja assumia ali naquela paróquia, quis ser padre e busquei ajuda naquele padre para ser eu também um bom padre.
JIN: Quando o senhor decidiu ser padre?
PEAC: Quis ir para o seminário, após percorrer os dois anos de encontros vocacionais, estágios e convivência. Fui para o seminário em 2012, concluindo dentro do seminário o ensino médio e o técnico em Química. Momento difícil, pois, eu estava no seminário e ainda um adolescente, queria também estar em casa e na minha paróquia de origem.
JIN: Teve o apoio da família?
PEAC: De minha mãe, sim. Sempre me apoiou em tudo nas minhas decisões e sempre foi e, é muito presente. Outros eram imparciais, sempre os viam chorando quando eu tinha que voltar para o seminário.
JIN: Em algum momento o senhor teve dúvidas?
PEAC: Muitas, mas as dúvidas são purificadoras. Amadurecem as convicções naquilo que nos realizam. Eu sou muito realizado como padre, como pessoa humana.
JIN: Como é seu relacionamento com seus familiares?
PEAC: É muito bacana e diversa. Meus pais estão sempre aqui em Lagoa Santa. Passam momentos, dias e datas especiais comigo – minha irmã fica até com ciúmes (rsrs). Temos grupos de WhatsApp de mãe, pai e filhos, grupos da família do meu pai e o encontro da Família. E como padre, tenho a obrigação de abençoar os momentos.
JIN: O que faz nas horas de folga?
PEAC: O que eu mais gosto de fazer hoje é dormir, mas gosto de ler também! Gosto de ver séries; estar com amigos, etc.
JIN: O senhor é atento às novidades tecnológicas. Acha que a mídia é importante para a evangelização?
PEAC: Muito! Pelas mídias alcançamos muito o coração, a atenção e rapidez.
JIN: Como foi o momento da sua ordenação?
PEAC: Foi muito lindo! Acho pela filmagem e fotos. No dia não vivi o momento, uma mistura de tensão, medo, alegria e choro diante de um momento esperado por 14 anos dentro de um seminário.