Aliando modernidade e resgates históricos, Secretaria de Desenvolvimento Urbano quer dar uma nova cara para o principal ponto turístico da cidade
Uma verdadeira testemunha histórica. Foi onde tudo começou. Se Felipe Rodrigues não tivesse parado exatamente ali para descansar com seu cavalo, nada disso existiria. Se esse mesmo homem não tivesse mergulhado seus pés na água da lagoa, não teríamos o motivo e o início da história de fundação da cidade. Mesmo sem todo esse resgate histórico, não dá para negar: a Lagoa Central é muito importante para a cidade. Ponto turístico, espaço preferido dos moradores para caminhadas, práticas esportivas, para jogar conversa fora… É o local de maior concentração de bares da cidade, muito procurado para os happy hours e para os encontros com as famílias. A lista continua e, possivelmente, se rodarmos a cidade questionando os moradores sobre o seu local preferido em Lagoa Santa, em 90% dos casos a lagoa aparecerá. Mas se mudarmos a pergunta para ‘você acha que a lagoa poderia ser mais bem aproveitada pelos moradores e turistas?’, provavelmente todo mundo conseguiria apontar uma forma de melhoria para o espaço. E é aqui que entra o projeto que quer revitalizar a orla do principal ponto turístico de Lagoa Santa.
As ações são amplas e vão desde intervenções estruturais à preservação ambiental. A proposta foi desenvolvida pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano da cidade e já prevê obras para 2017. “Pensamos esse projeto para melhorar a interação do nosso principal ponto turístico com moradores e visitantes. Esse é o primeiro objetivo que a revitalização da lagoa tem que cumprir. De que adianta termos um espaço tão bonito apenas para contemplação? É claro que a admiração é importante, mas se envolver com o local é muito mais prazeroso”, explica Breno Salomão, vice-prefeito e secretário de desenvolvimento urbano de Lagoa Santa. As primeiras intervenções serão estruturais. A orla da lagoa vai receber um novo piso e um deck que terá cerca de 3 a 5 metros, dependendo da área de instalação. Esse equipamento visa, principalmente, a segurança, já que em várias partes da orla há um desnível muito grande entre o passeio e a lagoa. Também será feita uma readequação na parte viária, priorizando os pedestres, ciclistas e depois veículos.
Área do passeio hoje
A participação da comunidade tem sido fomentada, principalmente, através de audiências. O projeto foi apresentado à sociedade lagoassantense no auditório da Escola Municipal Dr. Lund. Durante a explanação, toda a equipe da secretaria deixou bem claro que tudo pode e deve ser avaliado e discutido pela população. No projeto de revitalização do Iate, por exemplo, foram convidados moradores da região para participar do debate. Eles contribuíram com a vivência de quem mora bem perto do local. Além de incrementar informações aos dados da prefeitura, os moradores ainda transformam o projeto em algo pessoal. “Esse projeto, exatamente pela sua grandiosidade, não vai acontecer da noite para o dia. É um desenvolvimento de anos. Uns 12 anos pela estimativa da secretaria. Envolver a comunidade é garantir que isso tudo não se perderá em governos seguintes. Não será uma obra deste governo. Será obra da população, feita pela população e com envolvimento de toda a comunidade”, friza Breno Salomão.
Área de deck e passeio revitalizados
Linha do tempo da história da cidade
A outra parte do projeto e uma das mais interessantes é a cultural. Ao longo da nova orla será criada uma passarela histórica que reconta fatos importantes da cidade. Na área do vertedouro, próxima à Rua Josefina Viana, começam as intervenções em um espaço intitulado Praça 12, que faz referência aos 12 mil anos antes de Cristo. Deste ponto até o chamado Deck do Pontal, que ficará na altura da rotatória da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Conde Dolabela, começa uma linha do tempo relembrando a época do descobrimento da cidade até a sua fase atual. Como já contamos ali em cima, tudo começa com Felipe Rodrigues. Ele é o primeiro personagem dessa linha do tempo. A escultura do tropeiro será feita submersa nas águas da lagoa que o curou de fortes dores nas pernas. O cavalo, que era seu fiel companheiro nas descobertas da época, também está na representação. Um pouco mais a frente, um personagem fundamental para Lagoa Santa: Peter Lund. O dinamarquês escolheu a cidade para fixar residência depois de ter rodado o país. Por aqui, ele desvendou as grutas e toda a cultura rupestre. Encontrou fósseis, como a preguiça gigante e se transformou no pai da paleontologia. A direção que o pesquisador aponta é a de seu mais precioso local de exploração: a gruta da Lapinha. Nesse trecho, ele está acompanhado de dois grandes parceiros: Peter Brandt, que anotava todas as instruções de Lund e Eugenius Warming, que catalogou as espécies do cerrado da região.
César Batista e Edgar Saviotti, arquitetos responsáveis pelo projeto
Depois das estátuas, vem algumas outras obras que continuam recontando a história de Lagoa Santa. No marco do ano de 1900, ficará um memorial da imigração árabe, uma das culturas que faz parte da formação da população da cidade. Os imigrantes desse povo auxiliaram também na construção comercial. A escultura que representará essa área será um ‘obrigado’ escrito na língua nativa da cultura. Outros trechos ainda vão lembrar a importância da aeronáutica para a cidade, a descoberta da Luzia como primeira brasileira e outros itens. Tudo isso se converge em uma área denominada Praça do Presente, construída bem na rotatória que interliga as Avenidas Getúlio Vargas, Júlio Clóvis Lacerda e a Rua Conde Dolabella. Bem ao lado dessa praça, onde antigamente ficava o Poliesportivo da cidade, será construída a nova sede do governo municipal. Tudo fazendo alusão a uma nova fase de Lagoa Santa.
Também na primeira fase de obras está a revitalização do Iate. O governo municipal discute com moradores e associações da cidade a nova finalidade do espaço. Até o momento, a maioria quer uma utilização cultural. Por isso, Iate Cultural. Um novo espaço com mirante no topo do prédio, área para exposições e mostras (que poderiam ser fixas ou temporárias) e uma grande área externa com jardim de esculturas e uma vista privilegiada da lagoa.
Outro belo equipamento cultural que será instalado no projeto é o Anfiteatro do Horto. Um espaço de admiração da lagoa mas também de apresentações culturais e musicais. “Existem diversos projetos que podem vir para a cidade. O que precisamos é ter um espaço para que essas coisas aconteçam. Depois disso, fica fácil arrumar formas de ocupá-lo”, ressalta o arquiteto César Batista lembrando que a prefeitura da cidade já foi procurada para receber iniciativas culturais desse tipo.
Resgate do espelho d’água e renaturalização da lagoa
Com ajuda da UFMG, em um convênio que deve ser firmado em breve, a Prefeitura de Lagoa Santa, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, responsável pelo projeto, pretende resgatar a área ambiental do ponto turístico. O projeto paisagístico emergencial (PPE) prevê enrocamento – processo utilizado para evitar a erosão – e o plantio de mudas nativas. Durante a apresentação do plano, no auditório da Escola Municipal Dr. Lund, um dos moradores da cidade, o Sr. Carlos Von Sperling, questionou o esgoto que ainda cai na área. “Não adianta ter uma orla linda e continuar utilizando a como área de despejo de dejetos”, disse. O secretário de desenvolvimento urbano e vice-prefeito de Lagoa Santa, Breno Salomão, respondeu: “É claro que essa também é uma preocupação nossa. A secretaria já conhece bem a situação da lagoa e sabemos bem o que precisa ser feito para resolver. Mas a obra que solucionaria esse problema é caríssima e o governo municipal, infelizmente, não tem recurso. Apesar disso, já estamos em contato com o Ministério das Cidades, com auxílio do deputado federal Marcelo Álvaro Antônio, para tentar viabilizar pelo menos parte dos 20 milhões de reais necessários para a execução dessa obra”, esclareceu o político. O resgate da fauna e flora nativas na lagoa é um dos destaques dessa revitalização na parte de meio ambiente. “Renaturalização” foi o termo usado pela equipe para nomear esse resgate da biodiversidade rica da área. “Não queremos que a lagoa seja um tanque artificial. Queremos dar e resgatar vida para o entorno do xodó da cidade”, enfatiza Salomão. Pelo menos 1800 mudas nativas serão plantadas na orla. O que não fará com que as árvores atuais sejam destruídas.
Recursos
Parte do dinheiro que custeará as obras de revitalização da lagoa já foram conseguidos através de medidas compensatórias. O governo municipal busca no Ministério do Turismo o restante do investimento necessário para finalizar a primeira parte das obras. O primeiro trecho de intervenção custará cerca de 1 milhão e 400 mil reais.
Dispositivos turísticos
- Praça 12
- Deck memória (estátuas históricas e obras de arte)
- Deck Vitória Régia
- Anfiteatro do Horto
- Praça do Presente
- Gramado livre
- Quadras esportivas da orla
- IATE Cultural
- Centro de Atendimento ao Turista (CAT)
- Centro de Educação Ambiental (CEA)