Apesar de ser um dos menores bairros de Lagoa Santa, o Morro do Cruzeiro, também um dos locais mais antigos do município, tem muita história para contar! Teria sido do alto do morro, um dos pontos mais elevados da cidade, que em 1733 o bandeirante Felipe Rodrigues avistou a lagoa e, logo em seguida, ali se estabeleceu.
Foto: Reprodução
A princípio chamado de Morro da Conceição, em função da Capela construída, conforme registros, no século XIX, em honra à Nossa Senhora da Conceição, adotou oficialmente o nome atual após a instalação do Cruzeiro erguido na praça do bairro em 1943. A construção do monumento tem, inclusive, uma história curiosa.
De acordo com alguns textos de Maria Marilda Pinto Corrêa, neta de Messias Pinto Alves, relatos de Marlene Luzia Viana e de familiares de Waldemar Pinto Alves, a construção do Cruzeiro nasceu de uma promessa feita por Messias em prol da visão do filho Waldemar que, supostamente em um jogo de futebol, teve um problema de descolamento de retina. Pouco tempo depois, Messias faleceu sem construir o monumento empreendido então pelo próprio Waldemar, já praticamente cego, com a ajuda do carpinteiro Nico de Matos e, em um mutirão histórico de toda a população da cidade.
Segundo Marlene, a madeira utilizada na construção do Cruzeiro foi retirada da Fazenda do Pastinho, de propriedade de seu avô paterno, Tristão Mariano, e arrastadas por juntas de boi para ser esculpida a machado. Na parte superior do monumento, de aproximadamente 20 metros, os martírios da crucificação de Jesus Cristo.
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“O Cruzeiro foi durante muitos e muitos anos reverenciado por toda a população de Lagoa Santa. Em períodos de seca prolongada, por exemplo, os moradores tinham uma crença de que era preciso clamar por chuva. Eles subiam o morro, em procissão, com vasilhas com água na cabeça que, em seguida, era despejada no pé do Cruzeiro junto com orações pedindo a Deus que mandasse chuva. Participei muitas vezes dessas procissões. E, por incrível que pareça, quando descíamos o morro já começava a chuviscar. Fui testemunha ocular desse acontecimento, eu vi isso acontecer”
– Marlene Luzia Viana, neta de Tristão Mariano
Onde fica?
Extensão do Bairro Morro do Cruzeiro
Se limitando, à esquerda, com o bairro Sobradinho e começando no início na Rua Morro do Cruzeiro, na divisa da Rua Júlio Clóvis de Lacerda com a Avenida Integração, no bairro Luiz Toledo, o Morro do Cruzeiro é relativamente pequeno: conta com uma rua principal, que durante muitos anos foi e ainda é o principal acesso ao bairro, a “Morro do Cruzeiro”, e alguns condomínios fechados em suas mediações: Terra Vista, Eco Village e Versalles.
Após a construção da Avenida Integração, a Rua Gerson da Costa Viana, concluída há pouco tempo, se tornou também outra opção de acesso. Além da subida bastante íngreme para se chegar ao bairro, uma característica marcante da região é o calçamento, comum na maioria das ruas do Morro do Cruzeiro.
Rua Morro do Cruzeiro
Primeiros moradores e comércios
Bar do Serginho
Ocupado a princípio por fazendas do bandeirante Felipe Rodrigues, primeiro a habitar o local, o Morro do Cruzeiro, utilizado mais como um local de passagem, nunca chegou a ser um bairro muito povoado. Contando hoje com uma população pequena, de cerca de 420 eleitores, é formado em sua grande parte por pessoas bastante simples e humildes.
Majoritariamente residencial, o Morro do Cruzeiro também não conta com muitos estabelecimentos comerciais. Apesar de abrigar alguns dos principais pontos turísticos da cidade, o que se vê pelo bairro são pequenos comércios: bares, mercearias e salões. O mais antigo deles, e em atividade ainda hoje, conforme apurado, é o famoso Bar do Serginho, estabelecimento em funcionamento há mais de 30 anos na região.
A belíssima Capela de Nossa Senhora da Conceição
Erguida no século XIX, a Capela de Nossa Senhora da Conceição é uma das remanescentes em nossa cidade do período colonial. Tombada pelo Conselho Municipal de Cultura como Patrimônio Histórico Arquitetônico em 2001, por meio do Decreto nº. 234 de 5 de abril, pelo então prefeito Genesco Aparecido de Oliveira Júnior, é considerada por muitos especialistas como uma das mais importantes construções de Lagoa Santa.
Após muito tempo abandonada, e em processo de grande deterioração, a Capela recebeu por muitos anos os cuidados de Efigênia de Freitas, moradora responsável pela primeira restauração do espaço que contou, inclusive, com os trabalhados do artista Herculano Campos, autor da pintura de Nossa Senhora da Conceição no teto, e de Ruth Armond Werneck Côrtes, que ficou à frente dos trabalhos de restauração do altar, sacrário e peças da Via Sacra.
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Capela Nossa Senhora da Conceição
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Capela Restaurada
Em 2019, com a autorização do Ministério Público, a Capela passou por um novo processo de restauração. Sob a supervisão do Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte e da Paróquia de Nossa Senhora da Saúde, por meio do pároco Ednei Almeida Costa, a edificação recebeu intervenções na estrutura do teto, paredes e foi totalmente pintada.
“Pensar na Igreja de Nossa Senhora da Conceição e no Morro do Cruzeiro me faz lembrar da minha avó, da minha mãe, que sempre tiveram muita devoção. Desde que eu me lembro de mim, da minha infância, todo 8 de dezembro a gente subia a pé levando garrafas de água, em processo de oração, na maioria das vezes chovendo muito, para agradecer e fazer novos pedidos. Então, a minha relação com o Morro do Cruzeiro é de muito afeto. E, enquanto professora de história, pensar que é no bairro que tudo começa: quando os bandeirantes chegam no ponto mais alto, conseguem avistar a lagoa e a planejar o que seria, a partir dali, o processo de povoamento da região. Por isso, o mirante e a memória histórica e afetiva desse espaço são tão importantes. Pensar a cidade, Lagoa santa, sem levar em conta seu patrimônio histórico, sua memória afetiva, é perder uma parte importante de quem nós somos e para onde nós vamos”
– Renata Rosa, historiadora e ex-secretária de Cultura de Lagoa Santa
Escola Dona Maria Augusta: uma grande referência no bairro
Escola Dona Maria Augusta
Uma das maiores referências no Morro do Cruzeiro, além é claro do Cruzeiro e da Capela de Nossa Senhora da Conceição, é sem dúvida a Escola Dona Municipal Maria Augusta. Inaugurada em 7 de dezembro de 1995, a Instituição conta hoje com 18 funcionários e 141 alunos. Oferecendo as modalidades de ensino de educação Infantil e Ensino Fundamental I, conta com seis salas de aula, biblioteca, sala de jogos, sala de direção e pedagógica, refeitório e quadra poliesportiva com vestiários e banheiros.
“Podemos afirmar que a escola Dona Maria Augusta é um ponto de referência muito respeitado dentro da comunidade do Morro do Cruzeiro. Além de exercer um importante papel acadêmico, exerce um grande papel de assistência e inclusão social. Aprendi em pouco tempo admirar e respeitar a resistência e a garra das famílias do bairro, que apesar de todas as adversidades têm buscado o melhor para a educação de seus filhos”
– Jaciara Braga, diretora da Escola Dona Maria Augusta
Quem foi Dona Maria Augusta?
Dona Maria Augusta
Nascida em Diamantina, em 9 de dezembro de 1909, Maria Augusta de Ávila Reis, mudou-se para o Serro onde se formou professora primária. Lá, casou-se com Moacir Ferreira dos Reis, vindo logo em seguida, aos 21 anos, para Lagoa Santa, cidade onde se estabeleceu até o seu falecimento. No município, iniciou sua vida profissional como professora primária em 1930 na Escola Dr. Lund, cargo que exerceu com muito dinamismo e dedicação. Simultaneamente ao trabalho na Escola, dava também aulas particulares gratuitas em sua residência, preparando alunos para o ingresso na 1ª série do antigo curso ginasial. Entre alguns deles, o dentista e ex-prefeito Sírio David de Abreu.
Em 1969, já aposentada, dedicou-se à Biblioteca Pública Municipal de Lagoa Santa, dando início a atividade que até então não existia. Além de relacionar com muito carinho os livros e organizá-los nas prateleiras, atendia e orientava os alunos da cidade em suas pesquisas.
Diante da idade avançada e de problemas de saúde, que não mais lhe permitiam as atividades, encerrou o trabalho na Biblioteca vindo a falecer no dia 26 de fevereiro de 1991, aos 82 anos, de uma diverticulite. A tão querida e admirada professora deixou duas filhas: Anete Ferreira dos Reis Duarte, hoje com 80 anos, e Elizete Ferreira Cruz Homem, de 77.
“A nossa mãe, Dona Maria Augusta, apesar de não ter nascido em Lagoa Santa, aqui viveu apaixonada por essa cidade que a acolheu com tanto carinho. Ser homenageada com o nome de uma escola é um reconhecimento importante que significa muito para todos nós. A preservação da sua memória se deve aos inúmeros desafios colocados a ela quando Lagoa Santa ainda dava os seus primeiros passos rumo a uma educação de qualidade”
– Anete e Elizete, filhas de Dona Maria Augusta
Outro nome marcado na história do bairro: Efigênia de Freitas
Dona Efigênia de Freitas
Outra personagem importante na história do Morro do Cruzeiro é Efigênia de Freitas, a moradora que durante anos cuidou com muito amor da Capela de Nossa Senhora da Conceição. Natural de Lagoa Santa, Efigênia, nascida em 1915, era a caçula de seis irmãos. Toda a família, com exceção do pai, foi levada pela Gripe Espanhola, fato que culminou na sua criação pelas tias desde os dois anos de idade.
Muito devota de Nossa Senhora da Conceição, apesar de não ser uma católica fervorosa, Efigênia foi a responsável pela primeira restauração da Capela localizada no alto do Morro. Funcionária da Prefeitura, Órgão que trabalhou durante toda a sua vida, era muito bem relacionada, fato que a possibilitava arrecadar doações que ajudaram a arcar, inclusive, como pagamento do pintor Herculano Campos, autor da pintura de Nossa Senhora no teto da Capela, e Ruth Armond Werneck Côrtes, artista que cuidou da restauração do altar, do sacrário e das peças da Via Sacra. Apesar das contribuições, conta-se que era ela quem arcava com grande parte das despesas do próprio bolso.
Para quem não sabe, a senhora que deixou o nome marcado na história do bairro, é a mãe de Nelson Cândido, o Nelsinho Dentista, morador que carregava no DNA as características de Efigênia. Também extremamente bondoso, segundo a viúva Vânia Ignácio de Oliveira Pontes, até muito mais que a mãe, exerceu ao lado de Genesco Aparecido de Oliveira Júnior o cargo de vice-prefeito por dois mandatos.
“Dona Efigênia dedicou sua vida à Capela até morrer. Sua bondade era visível! Além de muito querida, ela era também muito bem relacionada. Trabalhou durante muito tempo com Dr. Lindouro e teve, inclusive, uma participação importante na vida política da cidade”
– Vânia Ignácio de Oliveira Pontes, dentista, ex-vereadora e viúva do filho de Efigênia de Freitas, Nelson Cândido
Além de Nelsinho, Efigênia, que faleceu em 1986, após um infarto, teve outros dois filhos: Cândido Nelson, que mora hoje no Rio de Janeiro, e Veríssimo de Freitas Guimarães, o fundador do Albergue Lagoa Santa. Em homenagem a ela, o nome da Praça do Morro do Cruzeiro, espaço com playground, academia livre e anfiteatro, denominado por meio da Lei nº. 722, de 1988, como “Praça Efigênia de Freitas” pelo prefeito Lindouro Avelar.
O famoso “Albergue Lagoa Santa”
Foto: Rui Alves
Os lagoassantenses mais novos e as pessoas que residem há pouco tempo em Lagoa Santa provavelmente nunca devem ter ouvido falar do Albergue, mas o espaço, que funcionou por mais de três décadas no bairro Morro do Cruzeiro, já foi uma das mais famosas e badaladas casas de shows do Estado.
Construído por Veríssimo de Freitas Guimarães, e inaugurado em 1977, o “Albergue Lagoa Santa” era um espaço a princípio pequeno. Quem se recorda muito bem do estabelecimento em sua fase inicial é o músico Jeff Meinberg, que começou a frequentar a cidade com um casal de amigos com cerca de 13 anos de idade. Convidado a tocar no local, ainda adolescente, vivenciou o boom da Casa.
“Na época, era um espaço bem pequeno. Quando comecei a tocar no local, era uma mesa em um final de semana e duas em outro. O movimento foi crescendo e, após um ano, a ocupação, que já lotava o espaço, pedia uma reforma porque ficava o dobro de gente do lado de fora”.
Com o passar dos anos, o Albergue foi sendo ampliado e caindo cada vez mais no gosto dos frequentadores que vinham das mais diferentes cidades de Minas Gerais. Com capacidade para abrigar 1.300 pessoas, em um espaço de 1.150 metros quadrados de área construída, com vários ambientes, monitores de TV’s, sofás, sinucas e mesas, boate, palco para shows, pista de dança, bar e um moderno sistema de som e iluminação, contava ainda com uma vista privilegiada da lagoa central, dos municípios vizinhos e de alguns bairros de Belo Horizonte.
O fim de uma trajetória de sucesso
Foto: Reprodução
Mas, o que aconteceu com o Albergue? Bem, essa é parte triste da história. Em uma tarde de domingo, no dia 1º de agosto de 2010, um fogo, que começou na mata localizada na parte de trás do espaço, atingiu e queimou toda a Casa. E essa ainda não é a pior parte. O incêndio, que teve início às 14h, só chegou ao Albergue por volta das 19h.
Enquanto os Bombeiros não chegavam ao local, diversas pessoas assistiam aos prantos ao incidente que colocou fim a uma trajetória de sucesso da Casa que se manteve em alta por mais de 30 anos.
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“O Albergue tinha visual e ambientes mágicos. Era a maior e a melhor casa noturna da região de Belo Horizonte. Sem dúvida, locais e épocas inesquecíveis na minha vida. O espaço e o Morro do Cruzeiro marcaram muito a minha trajetória. Foram os pontapés iniciais para a minha carreira. E eu sou apaixonado pelo lugar até hoje. Acho um dos lugares mais lindos de Lagoa Santa! Fico muito triste pelo abandono e pelas ruínas que o Albergue se tornou. Acho que a Prefeitura deveria adquirir o espaço e construir um mirante, um espaço público que traga um retorno para a população e, principalmente, para os moradores do bairro. É uma região promissora, em frente à uma Igreja histórica”
– Jeff Meinberg
Uma das últimas pessoas a desfrutar das belezas do Albergue e a guardar, provavelmente, também um dos últimos registros do local foi com certeza Ana Paula Viera. Foi no espaço que a professora de 39 anos, fez em 2010 as fotos do casamento. Logo após a cerimônia religiosa, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Saúde, ela e o marido, o empresário Wanderlei Vieira Félix, de 51 anos, frequentadores da Casa, foram para o Albergue realizar a sessão, segundo ela um lugar com uma vista belíssima e uma paisagem maravilhosa.
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“Quando decidimos nos casar, logo pensei em fazer as fotos lá. Quando chegamos no Albergue, um pouco cedo para a noite badalada, haviam algumas pessoas aguardando do lado de fora. Entramos com os olhares atentos daqueles que ali estavam. A noite estava linda e o Albergue radiante. Iniciamos as sessões de fotos e, claro, as imagens ficaram maravilhosas! Cada detalhe encantador: os balcões, as paredes de tijolinhos à vista, o mobiliário. Um momento mágico, único. Quando finalizamos, já na saída, fomos surpreendidos por todos os que aguardavam para entrar com muitas palmas, elogios e viva os noivos. Foi lindo! Guardo a sete chaves no coração as lembranças daquele espaço incrível. Obrigada Albergue, obrigada Morro Cruzeiro, vocês serão eternos”
– Ana Paula Vieira
Um espaço de toda Lagoa Santa
Márcio Lara, empresário e ex-vereador, última pessoa a administrar o Albergue, se emociona ao falar, além do espaço, que chegou ao fim há mais de 10 anos, também do Morro do Cruzeiro. De acordo com Márcio, se tem uma coisa de que sente saudade são dos moradores do bairro. Segundo ele, pessoas muito boas, honestas, trabalhadoras e de uma grande energia.
Márcio Lara
“Sempre me trataram com o maior carinho, com o maior respeito e com a maior consideração. O Albergue fazia parte da vida deles e eles da vida do Albergue, o que eu sempre achei o máximo, porque sempre prestigiamos com os empregos os moradores do Morro do Cruzeiro: desde os tomadores de conta dos carros aos atendentes, o pessoal do caixa, tudo. Sempre tive como política de gestão de valorizar as pessoas do bairro. Eles cuidavam do Albergue como cuidavam da casa deles. Pessoas diferenciadas, muito dignas e bacanas”.
Já a razão do sucesso do Albergue era, para Márcio, uma combinação de vários fatores: a energia, o visual da lagoa, a montanha, o verde e a estrutura no geral, que era diferenciada. “O Albergue era uma casa de shows onde as coisas fluíam com uma naturalidade. Não tem como explicar! Só mesmo quem viveu. A energia era muito boa e o ambiente muito agradável, daí a longevidade do espaço. A história diz que poucas casas noturnas tiveram a vida útil que o Albergue teve como empresa. Era uma casinha pequena que se transformou em uma das casas de show mais conceituadas de Minas Gerais”. Em resumo, segundo Márcio, todas as pessoas se vestiam de paz para ir para o local. Elas chegavam ao espaço em estado de graça: subindo o morro e vendo a lagoa.
“Você pega a cidade de Lagoa Santa que é linda, a energia do Morro do Cruzeiro, os moradores do bairro, que são pessoas diferenciadas, e junta todos esses ingredientes a bons artistas, a um bom atendimento, ao conforto e a alegria das pessoas que frequentavam: era o resultado do sucesso do Albergue. A somatória de todos esses fatores”.
Por fim, Márcio afirma também que o Albergue sempre teve como principal aliado a comunidade de Lagoa Santa. “Todos tinham um carinho muito especial pela Casa. Eu devo muito aos comerciantes de Lagoa Santa. Todos falavam do Albergue para os clientes. O espaço tinha uma sintonia com a cidade que era uma coisa fantástica. Mesmo sendo gerido por diferentes pessoas ao longo de sua trajetória, o estabelecimento nunca teve um único dono. O Albergue, espaço que marcou várias gerações, era de Lagoa Santa”, conclui.
Os artistas que passaram pelo Albergue…
“É mais fácil falar quais não passaram pelo Albergue”, disse Márcio Lara ao ser questionado sobre a passagem dos artistas que, segundo ele, foram centenas e de diferentes estilos musicais (MPB, Axé, Pop Rock, Rock, Sertanejo): César Menotti e Fabiano, Gino e Geno, Don e Ruan, Fred e Paulinho, Clayton e Romário, Eduardo Costa, Jota Quest, Maurício Tizumba, Pitty, Manitu, Alexandre Peixe, Araketu, Reinado do Terra Samba, Jammil, entre inúmeros outros. “Além dos aquecimentos do Axé Brasil, que eram feitos no Albergue, muitas bandas também se apresentaram no início de carreira com outros nomes, como o Skank, por exemplo. E mais: bandas de baile famosíssimas e artistas de grande expressão nacional: Nelson Gonçalves, que se apresentou no local logo após a abertura da Casa, em 1978, Geraldo Azevedo, Almir Sater, Belchior”.
Um dos shows mais marcantes? Para Márcio Lara, todos! Mas, entre as principais lembranças e recordações, estão as apresentações de César Menotti e Fabiano, dupla que batia todos os recordes: público, renda e venda.
“Me lembro, quando os meninos faziam shows lá, dos inúmeros engarrafamentos saindo de Belo Horizonte até a chegada ao Albergue, local onde sempre fomos muito bem recebidos. Uma recepção maravilhosa do Márcio Lara e de toda a equipe dele. A Casa estava sempre muito lotada e por um público muito bacana. Era sempre bom aparecer por lá. Nós só temos a agradecer a excelente recepção que sempre tivemos no Albergue”
Lilian Byrro, assessora de comunicação da dupla César Menotti e Fabiano
Quem, claro, não podia também ter deixado de passar pelo Albergue é uma das mais queridas cantoras de Lagoa Santa: Márcia Drumond. Além de frequentadora assídua, foi no espaço que Márcia começou a carreira.
“Morei lá praticamente! Vivia no Albergue. Na época, eu fazia parte de uma banda de baile que fazia muitos shows no local. Eu dançava e estava começando a cantar. Então lá foi o início de tudo. O início da Márcia Drumond cantora”
– Márcia Drumond, cantora
Álvaro e Aurora
Bem, a possibilidade de reconstrução do espaço, para quem ainda tinha esperança de um dia voltar a ver o Albergue funcionando, infelizmente não existe mais. Álvaro Pinto, programador musical do estabelecimento por nove anos e irmão do atual proprietário, Mário Lúcio Pinto, até quis reerguer o Albergue, porém sem sucesso.
De acordo com Álvaro, que também é irmão de Aurora, dona de um outro importante espaço no bairro, o “Mirante da Aurora”, atualmente, a área onde funcionava a casa de shows foi desmembrada em quatro lotes, hoje, colocados à venda.