Moradores do Conjunto Residencial Lagoa Santa, entre outros bairros próximos, estão indignados com a falta da prestação do serviço de transporte público na região que já dura desde o início da pandemia, em 2020.
As reclamações da população que precisa utilizar o serviço têm se tornado cada vez mais constante e a opção, para quem não quer andar por quilômetros a pé, é fazer uso do transporte alternativo ou até mesmo clandestino. Uber, táxi ou mototáxi, perueiros e, até carona, são as alternativas para quem precisa sair ou chegar ao bairro para trabalhar. Para confirmar o problema, basta alguns minutos na avenida Rodoviária, principal via de acesso, para se deparar com diversas pessoas que acabam, por falta de opção, transitando a pé entre os bairros.
Para a moradora do bairro Vargem do Lobo, Maria de Fátima, de 65 anos, é como se o bairro tivesse sido esquecido pelo poder público. “Tenho 65 anos e ainda trabalho para ajudar nas despesas da casa. Então vou e volto a pé, diariamente, faça chuva ou faça sol. Acho que os mais velhos não são pagantes, então são ignorados. Todos aqui sofrem com isso”, explica enquanto enxuga o suor do rosto.

A funcionária pública, Priscilla Assunção, de 37 anos, tem dois filhos, sendo um deles portador de necessidades especiais e que precisa de ajuda para se locomover. Para ela, entre todas as dificuldades enfrentadas pela população da região, a falta do transporte público tem sido a pior, pois os obriga a gastar com transporte alternativo seguro e isso acaba sendo muito mais caro. “Estamos esquecidos pelas autoridades. Aqui os candidatos só aparecem para pedir votos. Temos várias reclamações de buracos, matagal, tráfico de drogas, mais a questão do ônibus. Às vezes, a gente tá com criança no colo e não tem condição de pagar um Uber ou um táxi e fica na dependência de favores. Queremos ao menos as pouquíssimas linhas que existiam”, suplica a moradora.
A falta do serviço atinge também quem tem carro, mas precisa contratar mão de obras de outros bairros. A diarista e manicure, Elisangela Alves, de 35 anos, mora no bairro Palmital e há cinco anos trabalha no Lundceia, mas com a redução das linhas, se viu obrigada a mudar os planos. “Com o corte dos ônibus tive que voltar a ser diarista, pois os meus patrões não conseguiam me oferecer um transporte seguro que valesse o custo diário. E pagar do meu bolso foi ficando inviável, então reduzi os dias e, consequentemente, minha renda.
Falta comunicação entre o povo e o Lagoa Viva
Cansados de procurar pelos canais de comunicação disponíveis pelo consórcio Lagoa Viva e pela Secretaria Municipal do Transporte de Lagoa Santa, a Translago, os moradores recorrem às redes sociais, rádios e jornais locais na esperança de serem atendidos.
“Eu entendo o fator pandemia. Mas, pela lógica, os ônibus deveriam aumentar para diminuir o contato entre as pessoas e diminuir o contágio. Isso é questão de saúde pública. Agora, cortar totalmente o serviço, é um desrespeito com quem paga imposto. E, o pior, passam um número de telefone que não funciona, ninguém consegue falar na Translago. São idosos carregando peso por quilômetros, até chegar em casa, domésticas e trabalhadores a pé, cansados do trabalho, e pais com crianças. Isso tem que acabar!”, diz o post de uma internauta insatisfeita numa das páginas de denúncias de Lagoa Santa.
O aposentado, Geraldo Pereira, de 66 anos, foi um dos idosos flagrados transportando uma carga de mais de 50 quilos para a casa. Embaixo de sol quente e temperatura de 30º, ele precisou se deslocar do alto do bairro Promissão e andar por cinco quilômetros, entre ida e volta. “Adaptei esse carrinho para ficar mais fácil, pois tenho plantação e preciso da terra para o serviço. Se for contar com ônibus não é possível trazer. Então tem que andar, né?”

Procurada por nossa equipe de reportagem, a Translago não atendeu nem retornou as ligações.
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