Elias Fernandes
Um dos grandes expoentes da atual cena do rap nacional, o músico Rashid se apresenta em Lagoa Santa neste domingo (11). O artista sobe ao palco do Festival HipHop.Doc, que acontece durante a Festa de Agosto.
Com raízes em São Paulo, onde se destacou nos duelos da Batalha do Santa Cruz, Rashid é um dos rappers mais admirados de sua geração. Suas letras chamam a atenção pela forma como tratam de temas como a própria vida, por exemplo.
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O primeiro álbum do artista, “A coragem da Luz” (2016), trouxe diversos convidados, entre eles Criolo, Mano Brown e Xênia França. Já em “Crise” (2018), o músico apostou numa análise crítica dos tempos atuais, de turbulência política.
O show que acontece neste fim de semana é o primeiro de Rashid na cidade. Acompanhado pelo DJ Mista Brown e por Godô nos backing vocals, ele deve cantar canções recentes. Entre elas, “Bilhete 2.0”, “Interior” e “Não é desenho”.
A apresentação tem início às 21h30. Ela acontece na Praça Filipe Rodrigues, ao lado do antigo Poliesportivo.
“O show é a hora da troca”
O Portal Impactto realizou uma mini-entrevista com Rashid. Entre os assuntos tratados, sua relação com o palco e sua visão sobre a atual cena do rap mineiro. Confira abaixo:
PI: A cena do rap de Belo Horizonte e de Minas Gerais, como um todo, vem se destacando nacionalmente já há alguns anos. Djonga é um dos vários exemplos disso. Como você avalia o surgimento de novos nomes no estado e o fortalecimento dessa música?
Rashid: Eu tenho uma forte ligação com Minas Gerais. Minha avó é de Três Pontas, meu avô, de Camanducaia, e eu morei alguns bons anos com minha mãe em Ijaci, que fica perto de Lavras, ali no sul de Minas. Devido a isso, algumas pessoas me consideram, também, um representante do rap mineiro, e eu me orgulho desse fato. Hoje, assistindo esses novos nomes, fico mais orgulhoso ainda e satisfeito, porque tem muita gente extremamente talentosa surgindo. Desde 2013, eu já trabalhava com alguns nomes, como o próprio Coyote, que é de BH e hoje é o DJ e produtor musical do Djonga. Então, observar esse crescimento todo é lindo. Não tenho dúvidas que, assim como os grandes nomes que Minas Gerais trouxe para os outros estilos musicais brasileiros, o estado ainda revelará outros gigantes para o nosso rap também. Tão gigantes como esses que já estão aqui agora.
PI: O que você considera essencial para compor uma canção?
Rashid: Na minha visão, a verdade que a pessoa carrega em si é essencial. E essa verdade, que é dela, pode se manifestar de diferentes formas, até em forma de algo que ela nunca viveu. Mas ouviu falar ou observou, ou leu… Interiorizou aquilo e trouxe sua versão à tona. É quando o compositor consegue pintar um quadro e você, enquanto espectador, consegue ver as cores daquela cena que ele ou ela descreve. São muitas as coisas consideradas essenciais para compor uma canção. Quando colocadas assim, ficam parecendo uma lista de metas, uma coisa matemática… E é aí que a arte se perde. A verdade é que isso tudo é intrínseco ao impulso de colocar algo pra forma da melhor forma. Então, de certa maneira, também é essencial que não se pense demais quando vai compor algo.
PI: Em que você pensa quando sobe em um palco e se apresenta?
Rashid: Penso em fazer um ótimo show, divertir aquelas pessoas que me assistem, fazê-las esquecer por um momento o que há lá fora, sejam problemas ou privilégios. No momento do show, quando todos estão lado a lado, todo mundo é a mesma coisa. Inclusive eu e minha equipe. Queremos saber da música, queremos cantar alto pra extravasar e renovar as energias. Rir, chorar e ou protestar juntos. As pessoas têm motivos diferentes para ir até o local do show. Encontrar alguém, tirar foto com o artista que gostam… Mas, quando a música começa, não tem mais volta. Todo mundo entra na sinfonia.
PI: E o que você quer transmitir a quem te ouve cantar?
Rashid: Aí vem uma lista de coisas novamente. Mostrar que é possível estar ali, correr atrás de algum objetivo. Quero mudar o dia da pessoa, tocar de alguma maneira a vida dela, mesmo que só no sentido do entretenimento. O entretenimento também tem o seu poder, é uma válvula de escape. Então, eu quero que a pessoa pesque algo ali no meu show que ela possa levar pro resto da semana dela.
PI: Por fim, o que você espera do público de Lagoa Santa para o show deste domingo?
Rashid: Eu nunca estive em Lagoa Santa, então fica aquela expectativa de saber como reagirão ao meu show. Espero que a gente consiga fazer um grande trabalho e, consequentemente, que o público devolva essa energia. O show é a hora da troca, quando o artista faz um featuring com a plateia. Os dois lados são imprescindíveis para o espetáculo. Espero que todos nós, juntos, somados aos outros artistas do festival e à equipe, consigamos fazer algo histórico que ajude a cena local a ganhar mais respeito e crescer.