É fato que o ato de pensar sobre a morte nos leva a pensar sobre a vida. Vivemos um momento urgente em que um vírus, em sua suposta pequenez, escancara a nossa impotência e finitude. Isolados, inúmeras vidas se perdem, laços sociais se virtualizam, sonhos e planos são desconstruídos e todas as certezas e garantias são dilaceradas.
Esse real, em sua essência, escancara o que há de inerente ao ser humano: a sua própria falta. Todo o mal-estar se intensifica nesse cenário em que somos colocados frente a frente ao indefinido, ao indizível e ao que está fora da nossa possibilidade de controle. É neste momento de encontro com o real que a angústia nos invade e traz os seus singulares efeitos.
Em tempos de “10 passos para encontrar a felicidade”, a angústia é tomada como um produto da sociedade do consumo e, nesse contexto, a nossa cultura do imediatismo fortalece uma disputa incessante de ferramentas ou procedimentos que a “adormeçam” ou que a “eliminem” instantaneamente.
Temos, em contrapartida, o fato de que a existência é, em si, marcada por um mal-estar, por uma incompletude e é, a partir dela, que nos colocamos em movimento. É por sermos causados por esse vazio que nos movimentamos em busca de algo além. Portanto, a saúde mental não é fruto de um “passo a passo” e nem tampouco de um silenciamento de nossas angústias e ansiedades.
A angústia é singular em cada sujeito e ela tem sempre algo a dizer. Logo, é importante que, neste momento de urgência em que ela vem se fazendo intensamente presente, não deixemos de falar sobre ela, de dar nome a ela e, sobretudo, de escutá-la. É a partir daí que localizamos os nossos desejos e nos colocamos em movimento.

Marina Marchesotti Araújo | Psicóloga Clínica | CRP 04/59243 | E-mail: [email protected]