“Quando você recebe o diagnóstico de câncer de mama, é como uma sentença de morte. E muitas mulheres que estavam em tratamento comigo de fato morreram. Mas eu estou aqui para provar que há cura.” O misto de desabafo e alerta é de Ediana Alves de Figueiredo, 44 anos, uma das pacientes do Instituto Mário Penna que desfilou na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nessa terça-feira (3), durante audiência da Comissão de Saúde.
Ediana e outras seis modelos levaram para a passarela histórias de vida diferentes, todas elas transformadas pelo câncer. A professora de Ribeirão das Neves (RMBH) descobriu a doença há dois anos e, em fase final de tratamento, faz um balanço: “Aprendi a valorizar coisas simples, uma comida gostosa, um banho”, conta, salientando que muitas dessas ações cotidianas “não tinham graça” durante a doença.
A reunião, solicitada pelo deputado Arlen Santiago (PTB), foi uma das ações do Legislativo na campanha mundial Outubro Rosa, que preconiza o diagnóstico precoce do câncer de mamacomo fator de sobrevida das pacientes. O mastologista Leandro Cruz Ramires da Silva, da Secretaria de Saúde de Belo Horizonte, endossa que o câncer no estágio 1 tem 95% de chance de cura e gasto de R$ 5 mil no tratamento. Na outra ponta, quase não há sobrevida.
Humanização – A importância do tratamento humanizado da doença também foi destacada na audiência. Maria Ângela Ferraz Mosqueira dirige esse trabalho no Instituto Mário Penna e afirma que o desfile, que eleva a autoestima, também agrega valor ao tratamento médico. “O câncer é cruel, mas há beleza no seu enfrentamento e na superação”, pontua.
Paciente se apoia na fé para superar a doença
Autoestima e fé são a marca de Joana D’arc de Araújo, 55 anos. Ela estava há três anos sem fazer mamografia quando percebeu um pequeno caroço na mama, no ano passado. “Logo no diagnóstico,
Joana D’arc se diz mais forte emocionalmente (Sarah Torres)
pensei que era um propósito de Deus na minha vida. E me sinto carregada no colo por ele. Nesse período, muitas coisas me foram acrescentadas. Minha família me apoiou. Me sinto forte emocionalmente”, celebra.
Com base na própria experiência, Joana reforça a necessidade da mamografia, para se evitar um diagnóstico incorreto. Esse foi um drama vivido por Daiane Aparecida Oliveira, 31 anos, que suspeitou de menopausa e se tratou de anemia por muito tempo, até descobrir que tinha um Linfoma de Hodgkin. Hoje, cumpre o quinto de oito ciclos de tratamento. “Me sinto uma diva na passarela”, comemora a modelo.
Mutirão
Carolina Mourão Rossi, superintendente hospitalar do Instituto Mário Penna, falou pelos médicos e gestores presentes à audiência e anunciou que 1.500 mamografias serão oferecidas neste mês, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte. Os exames devem ser marcados diretamente nos hospitais Mário Penna e Luxemburgo.
Deputados pedem mais atenção do Estado
Muitos parlamentares participaram da audiência. O autor do requerimento, Arlen Santiago, salientou os números crescentes da doença, com 5 mil novos casos por ano só em Minas e 60 mil no Brasil, e lamentou que os hospitais precisem de ajuda da sociedade. “O governo federal paga R$ 60 por uma biópsia, mas a agulha custa R$ 100”, pontuou.
Segundo ele, ações para diagnóstico precoce que foram implantadas em Minas no governo anterior foram extintas na atual gestão. “Mulheres com menos de 50 anos já não têm onde fazer a mamografia no Estado, embora a incidência seja alta entre 40 e 50 anos”, afirmou.
Antônio Jorge (PPS), que foi gestor da saúde no governo anterior, reforçou a queixa de “desconstrução” de ações que se mostraram efetivas no diagnóstico da doença. Uma delas foi a dispensa do pedido médico para mamografia entre 40 e 50 anos, faixa que responde por 25% dos casos. “Saímos do 13º lugar para o 1º lugar no ranking de mamografia per capita na faixa de rastreio”, lembra.
Ainda de acordo com o deputado, dos 14 caminhões que percorriam o Estado para a realização de exames, apenas seis estão em operação. “Temos que pressionar para retomar esse trabalho. E precisamos diminuir o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento”, afirmou.
O presidente da comissão, Carlos Pimenta (PDT), cobrou que o governo invista, pelo menos, o mínimo constitucional previsto para a saúde. Já o vice-presidente, Doutor Wilson Batista (PSD) defendeu o cumprimento de normas que garantem a reconstituição mamária, tratamento acessível a menos de um terço das pacientes. “Hoje o câncer de mama pode ser curado sem as grandes mutilações do passado. Precisamos aprimorar isso”, frisou.
Emoção
A audiência foi encerrada com música e com a emoção de familiares e amigos das pacientes. Elaine Maria da Silva Ribeiro chorou ao ver a irmã, Eliana, desfilando. “A doença uniu ainda mais nossa família. Eliana é exemplo de superação”, afirmou.
Da ALMG